#1252 - 'my favorite things', Julie Andrews
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| Posted on 23:44:00
Na próxima semana, acabam Lost e 24 Horas. Duas séries que mudaram a história da televisão.
24 Horas trouxe o conceito do tempo real mas, acima de tudo, do mundo real, e de um personagem que é reflexo da sociedade que o cerca, seja ela torturadora ou apaziguadora. Trouxe a ação para a telinha sem exageros ou clichês, e todos os clichês e plots redundantes que agora existem em qualquer produção de drama surgiram dele. O "não confie em ninguém", a câmera que se torna observadora a ponto de acharmos que há alguém escondido, o roteiro não nos mostrando tudo quando queremos...
Jack Bauer é um personagem já icônico. Traz as virtudes de um heroi aparentemente imbatível, como os brucutus dos anos 80, com as fraquezas e a humanidade dos herois da Marvel dos anos 60. Por isso que Rambo agora é considerado violento e sem alma, enquanto para o Homem-Aranha falta pulso. Porque Jack Bauer é o melhor de dois mundos. Ao mesmo tempo que sabemos que a história se tornaria grandiosa com sua morte, sabemos que ele, em seu plano, é insubstituível.
Disso surgiu Jack Shephard, e temos Lost. Brincando com a "caixa de mistério", conceito que J.J. Abrams agora aplica à exaustão, Lost trouxe a questão de não só não sabermos tudo, mas não sabermos praticamente nada. A cada episódio, a cada momento, começamos a descascar essas "cebolas" que são os elementos da série. Polêmica, perdeu público devido a sua complexidade, por seu rumo do científico ao místico. Trabalhou o conceito de flashbacks e derivados (flashforwards, por si só, geraram um novo produto cultural televisivo), além de trabalhar para o grande público coisas como viagens no tempo. Algo muito corajoso e com grande chance de dar errado.
Mas o principal é o impacto junto ao público. Mas não o público que fica na internet, baixa seriados e comenta tudo no Twitter. Falo do público que pega ônibus, que vê novela, que gosta de quermesse, ou como queira classificar o público que, antes, não tinha tanto acesso a seriados no formato de seriados.
A Globo sempre exibiu séries como programas sortidos, ou diariamente, sem qualquer anúncio. A Sessão que vinha onde agora é a Malhação tinha um programa por dia, mas algo sem qualquer vínculo, sendo geralmente comédias ou programas de ação de roteiro fraco.
Jack Bauer ganhou capa de revista de fococa. Teve resumo dos episódios de Lost da semana, como se novela fosse. Hoje em dia você pode falar Jack Bauer com a mesma firmeza que fala Mickey Mouse, e todos entendem. Essa é a grande conquista, porque não se pode negar que são obras culturais muito bem produzidas e inteligentes. 24 Horas tem tramas conspiratórias governamentais que exigem que você observe as nuances do que cada um fala. Lost o manda trabalhar sua memória e entender conceitos novos.
Que sentirei falta de 24 Horas e Lost não há dúvidas. São, nessa ordem, minhas duas séries favoritas do momento (nada substitui Chaves, Anos Incríveis ou My So-Called Life). Terei de buscar algo que supra minha vontade de ver séries de ação empolgante e de mistérios. Fringe taí, respondendo com mais velocidade.
Mas o importante é que se tenha na cabeça que uma obra magnífica sabe a hora de parar. 24 Horas e Lost tiveram seus problemas, mas precisam terminar.
Como disse uma vez Mister M: "O mais importante de revelar o truque da mágica é que você força os outros a criarem mágicas melhores."
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